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Este é o apelo deixado pela Embaixadora da Finlândia em Moçambique, Satu Lassila, aos participantes da Conferência Nacional da Juventude. “A juventude é essencial para sociedades justas, sustentáveis e inclusivas. A juventude não é apenas o futuro, é o presente. Todos os dias, jovens moçambicanos mostram talento, inovação e liderança. O jovem ouvido torna-se agente construtivo. O jovem ignorado pode perder a confiança no sistema”, alertou.

No seu discurso, a Embaixadora destacou que Moçambique é um país jovem e que, com educação de qualidade, oportunidades de trabalho e participação cívica efectiva, o potencial juvenil transforma-se em força para todo o país. Apontou como desafios centrais a educação inclusiva e moderna, competências digitais, emprego digno, economia verde e criativa, participação democrática, saúde e bem-estar (incluindo saúde mental) e prevenção da violência.

 

A Embaixadora partilhou ainda as três experiências adoptadas na Finlândia com foco no desenvolvimento dos jovens: (i) Participação juvenil – na Finlândia, todos os municípios possuem conselhos de juventude com direito legal de serem ouvidos e muitas das propostas apresentadas por esses conselhos transformam-se em decisões concretas; (ii) Educação e emprego – o ensino técnico-profissional da Finlândia combina aulas teóricas e estágios práticos, aliado a uma “garantia jovem” que assegura a cada jovem, no máximo quatro meses após o desemprego, uma oferta de trabalho, formação ou estágio; e (iii) Prevenção da exclusão – na Finlândia são oferecidos serviços de saúde escolar, apoio à saúde mental e atenção especial a jovens em situação de vulnerabilidade.

Trata-se de experiências que, nas palavras da Embaixadora, não devem ser vistas como receitas prontas, mas como provas de que investir na juventude traz benefícios para toda sociedade. A terminar, a diplomata encorajou o Governo moçambicano a incluir jovens de todas as origens na formulação de políticas e anunciou que, em Outubro, uma delegação de jovens políticos finlandeses virá a Moçambique para um programa intercâmbio com jovens moçambicanos. “É um mecanismo que fortalece valores comuns como democracia, inclusão e oportunidades”.

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No encerramento da conferência, Domingos do Rosário, Director do Programa IGUAL, destacou a importância dos debates realizados durante dos dias, nos quais as “Iniciativas Juvenis” estiveram representadas através de oito projectos. Explicou que a escolha dessas iniciativas teve como objectivo mostrar o progresso alcançado desde o início do projecto, em Março, e apresentar resultados concretos. Para além dessas iniciativas, especialistas e outros actores de diversas áreas foram convidados para partilhar conhecimentos e experiências, garantindo a participação ampla em um espaço aberto de diálogo.

Enfatizou que o conceito central da conferência foi permitir que todos pudessem expressar suas opiniões, frustrações, preocupações e ideias, como forma de aprendizado e correção de rumos para avançar. “Nós saímos daqui fortes, criamos inimigos e não sabemos como vamos nos defender contra os nossos inimigos. Mas, uma coisa eu vos garanto, se nós continuarmos a trabalhar assim sempre vamos criar inimigos. Então não tenhamos medo de criar inimigos. Se a gente tiver medo de criar inimigos, não vai para frente”, defendeu.

O Director do IGUAL mencionou ainda que, em Novembro, será realizado outro evento, incluindo uma feira de exposição, para apresentar os resultados das iniciativas de forma mais completa. Destacou ainda a importância de aproximar a universidade das demandas do mercado. Citou a experiência do projeto da AMIJIGE, onde algumas estudantes do 4º ano de cursos de ciências, tecnologias e matemáticas nunca haviam tido contacto prático com reparação de celulares e computadores, apesar de terem formação acadêmica. Essa constatação reforçou a necessidade de conectar a formação teórica com experiências práticas, ampliando oportunidades também para estudantes do ensino secundário.

Sobre a abrangência das iniciativas, Domingos do Rosário reconheceu que limitações financeiras impediram cobrir todo o país. No entanto, ressaltou que esforços foram feitos para apoiar iniciativas diversas, incluindo acções voltadas para pessoas com deficiência, comunidades LGBTQIA+ e outras. O critério adoptado priorizou maior impacto financeiro em menos projectos, ao invés de dispersar recursos em muitas iniciativas, buscando resultados mais concretos.

 

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O quinto e último painel teve como oradores Piedade Nogueira, da associação JOSSOAL; Mércia Penicela, da associação ESSOR; Lélio Gungule, da associação Muva; e Luís Bizeque, da associação Agro – Farm. Sob a moderação de Sandra Menete, do Instituto Nacional de Emprego (INEP), este painel analisou até que ponto a formação recebida corresponde às exigências actuais do mercado, destacando não apenas a educação formal, mas também o papel da educação informal e das aprendizagens adquiridas fora da escola.

A discussão trouxe à tona questões como a desvalorização de algumas formações, a necessidade de actualização curricular, a importância das competências tecnológicas e humanas, e o potencial de diferentes áreas para gerar oportunidades. O painel também convidou os jovens a repensarem o conceito de “procurar emprego” para “procurar trabalho”, incentivando uma postura mais activa, empreendedora e transformadora de realidades sociais e económicas.

 

Piedade Nogueira, da associação JOSSOAL, expressou preocupação com a baixa participação dos jovens em diversas iniciativas, questionando se os jovens estão realmente preparados para aproveitar oportunidades oferecidas pelo mercado. Apontou que muitas iniciativas lideradas por jovens fracassam por falta de planificação sólida e visão estratégica, resultando em negócios de “mortalidade precoce”. Introduziu a noção de que os jovens devem se transforma em “capital humano”, e não apenas em recursos humanos substituíveis.

Defendeu que a educação financeira, a poupança e o consumo responsável são elementos estratégicos para reduzir a dependência externa e fortalecer a economia local. Através do projecto apoiado pelo CESC, a JOSSOAL tem promovido a inserção socioeconómica dos jovens mediante formação prática, acompanhamento de negócios e desenvolvimento de competências empreendedoras. Exemplos concretos incluem jovens envolvidos em projectos de produção de manteiga de amendoim, reciclagem de plástico para produção de combustível e prensas mecânicas para extracção de óleo. Estas iniciativas não apenas geram renda imediata, mas também fortalecem a capacidade dos jovens de planificar, implementar e gerir projectos, aumentando sua autonomia económica e capacidade de contribuir para o desenvolvimento local.

 

Mércia Penicela, da associação ESSOR, defendeu que o desafio de emprego não reside apenas em oferecer formação, mas em garantir que os jovens estejam preparados e motivados para corresponder às exigências do mercado de trabalho, algo que actualmente não ocorre de forma consistente. Ela enfatizou que muitos jovens não adaptam os seus currículos às vagas disponíveis, aguardam passivamente por oportunidades e carecem de sensibilidade para identificar o que o mercado realmente procura.

A experiência da ESSOR demonstra que a inserção profissional eficaz deve considerar três pilares interdependentes: Os jovens, as empresas e as instituições de ensino profissional. Para os jovens, é essencial desenvolver competências técnicas e transversais, como comunicação, inglês e práticas sustentáveis, além de promover uma postura proactiva na procura de oportunidades. Para as empresas, a ESSOR realiza diagnósticos sobre perfis e competências demandadas, assegurando que a formação oferecida corresponda às necessidades reais do sector, como transporte e logística, hotelaria e agro-ecologia. Por fim, a ligação com instituições de ensino profissional permite que os currículos sejam continuamente ajustados, fortalecendo a preparação dos jovens para o mercado.

Entre as iniciativas concretas, Mércia destacou o Balcão de Orientação e Emprego (BOE), que apoia os jovens na elaboração de CV, na busca activa de oportunidades, na realização de estágios e no desenvolvimento de competências transversais. Um exemplo prático citado foi o pacote de formação em transporte e logística, que incluiu módulos de inglês e práticas verdes, resultando na inserção de jovens em empresas como a Mozal, MSC e Porto de Maputo. Estas acções ilustram a importância de combinar formação técnica, orientação prática e desenvolvimento comportamental, reforçando que a empregabilidade depende tanto da adaptação do currículo às demandas do mercado quanto da postura proactiva e consciente dos jovens.

 

Lélio Gungule partilhou a experiência da MUVA na inserção de jovens no mercado de trabalho desde 2015, destacando que os programas iniciais registavam baixa retenção: Apenas 14% dos jovens permaneciam nas empresas após seis meses, sobretudo devido a problemas de comportamento, atitude e ética profissional. Segundo Gungule, muitas empresas estão dispostas a ensinar competências técnicas, mas não conseguem formar jovens em aspectos fundamentais de comportamento como pontualidade, assiduidade, ética e disciplina. Ele ilustrou essas dificuldades com experiências concretas: Jovens contratados em empresas de referência foram despedidos porque chegarem ao local de trabalho sob efeito de álcool, envolverem-se em roubos ou desrespeitarem regras simples, evidenciando a lacuna crítica de habilidades comportamentais.

Para responder a esse desafio, a MUVA passou a investir em habilidades humanas, orientação profissional e sessões de preparação antes da entrada no mercado. Gungule destacou que essas competências são decisivas para garantir não apenas a contratação, mas a permanência dos jovens nas empresas, reforçando que “habilidade técnica se ensina, atitude não”. Além disso, o orador chamou a atenção para os desafios adicionais enfrentados pelas mulheres, como normas sociais que as condicionam, assédio em sectores masculinizados e a sobrecarga da dupla jornada (trabalho e tarefas domésticas) que comprometem sua participação e retenção no mercado. Defendeu que a preparação das empresas para inclusão e diversidade é tão importante quanto a formação dos jovens, de modo a garantir oportunidades reais de crescimento e desenvolvimento profissional para todas e todos.

 

Luís Bizeque apresentou o projecto “Jovens Cultivando o Futuro”, implementado pela Agrofarm no âmbito do programa IGUAL, evidenciando como o cooperativismo agrícola pode ser uma solução estratégica para o desemprego juvenil, a inclusão social e o fortalecimento económico das comunidades locais. O projecto aposta na criação de oportunidades de emprego sustentável, preparando jovens para actuarem de forma autónoma e resiliente no sector agrícola, mesmo frente às limitações do mercado formal de trabalho. Entre os principais resultados iniciais do projecto, destacou a criação de oito núcleos comunitários juvenis em Mafambisse e Tica (Sofala), em processo de formalização como cooperativas; a implementação de hortas comunitárias e formação em produção sustentável, branding e agronegócio; a inclusão social de jovens oriundos de orfanatos e prevenção do êxodo rural; e o umento da produção agrícola local, contribuindo para a segurança alimentar.

Luís reforçou que a Agro-Farm actua em múltiplas dimensões, não apenas formando os jovens tecnicamente, mas também fortalecendo a sua autonomia económica, participação comunitária e capacidade de permanecer produtivamente na sua região de origem. O projecto permite que talentos locais permaneçam nas comunidades, evitando migração precoce para centros urbanos, ao mesmo tempo que cria oportunidades de liderança juvenil e cooperação económica. O cooperativismo é o elemento central desta iniciativa, funcionando como alternativa sustentável ao emprego formal limitado e à precariedade do sector público.

Bizeque recorreu à teoria malthusiana para ilustrar o descompasso entre crescimento populacional e produção de alimentos em Moçambique, defendendo que formar jovens líderes por meio de cooperativas agrícolas é uma estratégia eficaz para aumentar a produtividade local, promover autonomia económica e reduzir vulnerabilidades sociais. Além disso, o projecto “Jovens Cultivando o Futuro contribui para que os jovens desenvolvam competências de gestão, negociação, trabalho em equipa e planificação estratégica, fundamentais para a sua inserção socioeconómica e política, enquanto fortalecem a resiliência comunitária e a segurança alimentar regional.

 

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O quarto painel foi dedicado ao debate sobre “Cultura, Arte, Paz e Tecnologia”. André Cardoso, Rapper e activista social; David Fardo, Presidente do Parlamento Juvenil; Dércio Tsandzana; Pesquisador e Especialista em Juventude; e Casquinho João, Associação Viver Saudável, foram os oradores do painel moderado por Wilker Dias, Director Executivo da Plataforma DECIDE. A sessão começou de forma interactiva, envolvendo a audiência com perguntas sobre a experiência pessoal no uso de arte e tecnologia para promoção de projectos e destacando as boas práticas e cuidados no uso de redes sociais no empreendedorismo.

André Cardoso, também conhecido por MC Xamboco, apresentou o conceito de artivismo, destacando como a música, a poesia e outras expressões culturais podem funcionar como instrumentos de denúncia e mobilização. Na sua intervenção, explicou que a arte, especialmente a música e a poesia, sempre desempenharam um papel central nas lutas sociais e políticas de Moçambique. Recordou que figuras como o escritor José Craverinha e, mais recentemente, o rapper Azagaia, mostraram como a palavra artística pode mobilizar consciências e pressionar pela mudança.

A partir dessa herança, o orador apresentou o projecto “Juventude, Arte e Governação Inclusiva”, que cria redes de jovens artistas para promover a cidadania e denunciar injustiças. Enfatizou que o microfone é uma arma pacífica, mas poderosa e partilhou exemplos concretos de canções e performances que abriram espaço para diálogos comunitários sobre violência policial, corrupção e desigualdade de género. Concluiu com uma performance poética que resumiu o espírito da sua intervenção: A juventude como força criativa e transformadora capaz de escrever o seu próprio destino.

 

O pesquisador Dércio Tsandzana focou-se na relação entre juventude e espaço digital como catalisador de mobilização social e económica, destacando diferentes gerações de jovens e o seu contacto com a internet, e apresentando exemplos de artistas e colectivos moçambicanos que usam o digital para impacto social. Sublinhou o impacto das plataformas digitais na participação política dos jovens, mas advertiu para a “ilusão de inclusão” que as redes sociais podem criar. Citou dados que revelam o baixo acesso à internet e a computadores, sobretudo em zonas rurais, alertando para a exclusão digital como uma nova forma de desigualdade.

O orador trouxe exemplos de iniciativas digitais de monitoria de governação e de campanhas online que influenciaram decisões locais. Apontou que a geração de renda online inclui desde blogs e podcasts até vendas e cursos, e mostrou exemplos de artivismo digital como Fred Wamusi, com ilustrações contra violência policial, e o hip-hop cívico. Contudo, alertou para os riscos da exclusão digital, da vigilância e da limitação das mensagens a círculos restritos, propondo maior inclusão e avaliação real do impacto das acções digitais, assim como lamentou o facto de, embora a tecnologia ser uma ponte ainda não chegar a todos e que sem acesso, essa ponte é privilégio de poucos.

 

David Fardo, Presidente do Parlamento Juvenil, defendeu a importância da juventude em assumir protagonismo na transformação social e na promoção da paz. Recordou figuras moçambicanas relevantes no cruzamento entre arte e intervenção social (Malangatana, Jeremias Nguenha, Azagaia) e apontou que a paz não se limita à ausência de guerra, mas envolve justiça social e respeito pelos direitos humanos. Defendeu a criação de espaços seguros de diálogo, mesmo sob o ataque das “Mahindras Digitais” que procuram descredibilizar iniciativas jovens.

Destacou ainda que a juventude também deve assumir responsabilidades e apresentou as acções que o Parlamento Juvenil tem vindo a desenvolver nas áreas de consciencialização, mobilização para a participação política e defesa dos direitos humanos. Criticou políticas recentes, como o Programa Quinquenal do Governo 2025-2029, que prevê aumentar a presença de jovens em cargos de decisão de 4% para apenas 7% até 2029, e o Plano Economico e Social e Orçamento do Estado (PESOE) de 2025, que, no seu entender, não prevê mecanismos de inclusão efectiva. Relatou que, apesar de 45 recomendações enviadas pela sociedade civil ao Governo, o documento final manteve praticamente a mesma redacção, sinalizando uma consulta pouco consequente. Reconheceu que a internet pode ser um canal de participação, mas lembrou que o alcance é limitado no país, e que é preciso converter o engajamento digital em influência concreta.

 

Casquinho João, da Associação Viver Saudável, contou como é que a iniciativa que nasceu como resposta às mudanças climáticas e à exclusão socioeconómica de jovens e mulheres na Beira. As primeiras acções centraram-se no empoderamento comunitário e promoção de oportunidades económicas, através da criação de ecopontos, clubes ambientais, oficinas de capacitação e produção de carvão ecológico a partir de capim, fertilizantes orgânicos e fogões melhorados. Estas soluções não só ajudaram a mitigar os impactos ambientais negativos, como também geram rendimento e promovem práticas sustentáveis entre os jovens e as comunidades locais.

Esta iniciativa recebeu o apoio do CESC através do Programa IGUAL, pois foi concebida e liderada pelos próprios jovens, fortalecendo sua capacidade de acção, resiliência e autonomia. Ao participar na implementação do projecto, os jovens desenvolvem habilidades técnicas, financeiras e organizacionais, aumentando sua inserção socioeconómica e política. A produção de carvão ecológico, por exemplo, é mais limpa e lucrativa do que a convencional, oferecendo aos jovens uma alternativa sustentável de geração de renda, ao mesmo tempo em que contribui para a preservação ambiental. Além disso, os fertilizantes orgânicos produzidos pelo projecto oferecem uma solução acessível e regenerativa para pequenos produtores, ampliando o impacto económico e ambiental da iniciativa. Casquinho desafiou supermercados e produtores a integrar a reciclagem no seu ciclo de produção.

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O terceiro painel discutiu a “Inclusão e diversidade: Garantindo espaço para jovens mulheres, minorias e pessoas com deficiência” e teve como oradores Anésio Manhiça, Director Executivo da associação INCLUSÃO; Emily Magaie, Fundadora da Magaie’s Travel; Joaquina Rodrigues, do Centro de Mercês e INCLUSÃO; e Laura Lourenço, do Fórum das Associações Moçambicanas de Pessoas com Deficiência (FAMOD). Delfina Mateus, da associação Inclusão, foi a moderadora do painel que reflectiu sobre a inclusão e diversidade, partindo do princípio de que um país mais justo só é possível quando todas as pessoas, incluindo mulheres, minorias sexuais e pessoas com deficiência, têm acesso equitativo a oportunidades.

Anésio Manhiça, Director Executivo da associação INCLUSÃO, partilhou a sua experiência com o “Empreender com orgulho”, uma iniciativa da INCLUSÃO apoiada pelo CESC, através do Programa IGUAL. O projecto foi concebido para desafiar a invisibilidade das pessoas LGBTQIA+ em programas de empoderamento económico, o que limita oportunidades de inserção juvenil. O “Empreender com orgulho” fornece um espaço seguro e inclusivo para jovens LGBTQIA+ desenvolverem competências empreendedoras e projectarem negócios sustentáveis. E um dos espaços seguros é o Café Networking, onde os jovens são encorajados a verbalizar, discutir e estruturar ideias de negócio.

O projecto apoiou a formulação e o desenvolvimento de ideias de negócio sustentáveis, trabalhando inicialmente com 60 propostas e avançando com 12 projectos em áreas como reciclagem de resíduos orgânicos, produção de calçado com materiais reciclados e criação de uma marca de moda para visibilidade LGBTQIA+. Os resultados alcançados demonstram o impacto concreto da iniciativa: Foram envolvidas 279 pessoas em interacções directas, 67 jovens empreendedores receberam formação prática, 55 líderes de associações juvenis LGBTQIA+ participaram do processo e, através das plataformas digitais do projecto, aproximadamente 3.400 pessoas foram alcançadas. Entre os exemplos de sucesso estão a transformação de lixo orgânico em carvão vegetal, produção de calçados a partir de materiais reciclados e orgânicos e a criação da marca Don Reich, voltada para visibilidade LGBT através de vestuário e acessórios.

Ao proporcionar um ambiente seguro, de aprendizagem prática e troca de experiências, o projecto “Empreender com Orgulho” permite que os jovens LGBTQIA+ não apenas se enquadrem no mercado, mas também se tornem resilientes perante barreiras legais e sociais, desenvolvendo competências empreendedoras, económicas e sociais. A iniciativa contribui, assim, para a integração socioeconómica e visibilidade política da juventude LGBTQIA+, alinhando-se ao espírito das “Iniciativas Juvenis”: Criar espaços inclusivos, promover inovação e fortalecer a capacidade dos jovens de atuar como agentes de transformação social e económica na comunidade.

 

Emily Magaie, Fundadora da Magaie’s Travel, partilhou a sua trajectória pessoal, marcada por discriminação no mercado de trabalho devido à sua orientação sexual. Sendo mulher lésbica, enfrentou vários desafios, incluindo exigências de adequar a sua aparência a padrões impostos, e chegou a perder oportunidades de emprego em Moçambique e no exterior. A partir dessas experiências, decidiu criar a Magaie’s Travel, uma empresa de agenciamento de viagens que presta serviços de documentação e consultoria, com foco na prevenção de fraudes e na facilitação de deslocações internacionais.

Começou a operar a partir de casa, conquistando clientes pela confiança e resultados, e hoje emprega outras pessoas, incluindo membros da comunidade LGBTQIA+. A sua experiência demonstra como, mesmo em contextos adversos e com barreiras estruturais, é possível construir soluções económicas sustentáveis e inclusivas. A iniciativa representa actualmente uma oportunidade concreta de participação activa dos jovens no mercado, capacitando-os com experiência prática e promovendo empreendedorismo inclusivo. O impacto do projecto da Magaie’s Travel vai além do negócio individual, criando um espaço de visibilidade e referência para jovens em situação de vulnerabilidade social, oferecendo-lhes ferramentas para que possam sustentar-se economicamente, participar na vida económica e social do país e inspirar outros a empreender de forma inclusiva.

Rodrigues, do Centro de Mercês e INCLUSÃO, partilhou a sua experiência enquanto activista pelos direitos de pessoas com albinismo e da comunidade LGBTQIA+, destacando a intersecção entre deficiência, orientação sexual e exclusão social. Como mulher moçambicana com albinismo e lésbica, relatou experiências de discriminação e invisibilidade, reforçando que “ter deficiência não é o problema, o problema é uma sociedade que não nos quer incluir”.

Para enfrentar os desafios específicos das pessoas com albinismo, foi criado o Centro das Mercês, único em Moçambique que distribui gratuitamente protector solar e oferece formação técnica e profissional, incluindo cursos de informática, culinária, corte e costura, e empreendedorismo. O centro trabalha também com azoto líquido para prevenção de câncer de pele, complementando a assistência médica escassa no país. Nas zonas centro e norte do país, as pessoas com albinismo não atingem os 40 anos de idade devido ao câncer de pele. Aliás, estima-se que apenas 2% das pessoas com albinismo atingem essa idade.

A activista defende a necessidade de reclassificação do protector solar como medicamento essencial, pois actualmente está na categoria de cosméticos, o que acarreta taxas elevadas para o desembaraço aduaneiro, que podem chegar a cerca de 200 mil Meticais, mesmo em casos de doações. Em relação à comunidade LGBTQIA+, Joana Rodrigues lamentou que a exclusão social e laboral persiste, sendo frequente que as únicas oportunidades venham de organizações internacionais. Defendeu uma educação inclusiva, acessibilidade como regra e representatividade real nos espaços de decisão, afirmando que “a inclusão não é caridade, é justiça”.

Laura Lourenço, do FAMOD, também partilhou a sua história de vida: Adquiriu deficiência física em 2019, após um acidente, e enfrentou dificuldades para continuar os estudos e encontrar emprego. Destacou que, embora as oportunidades sejam limitadas, a participação em movimentos de advocacia permitiu-lhe descobrir capacidades e talentos entre pessoas com deficiência que frequentemente são invisibilizados pela sociedade. Mas reconhece que a exclusão social e a invisibilidade continuam a afectar jovens com deficiência, e há famílias e comunidades que ainda escondem ou limitam a participação dessas pessoas.

Para reverter esta situação, defendeu a necessidade de criação de cotas orçamentais específicas, bem como de programas de formação e emprego adaptados às necessidades de pessoas com deficiência. Estes mecanismos não apenas reconhecem direitos, mas promovem a inserção socioeconómica e política da juventude, fortalecendo sua capacidade de actuação activa na sociedade. A inclusão de pessoas com deficiência não é caridade, mas justiça, e a sociedade e o Governo têm responsabilidade em garantir acessibilidade, visibilidade e oportunidades reais. Finalmente, Laura apelou à sociedade e às autoridades para que reconheçam o potencial da juventude com deficiência, garantindo formação, emprego e participação em espaços decisórios.

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