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O quarto painel foi dedicado ao debate sobre “Cultura, Arte, Paz e Tecnologia”. André Cardoso, Rapper e activista social; David Fardo, Presidente do Parlamento Juvenil; Dércio Tsandzana; Pesquisador e Especialista em Juventude; e Casquinho João, Associação Viver Saudável, foram os oradores do painel moderado por Wilker Dias, Director Executivo da Plataforma DECIDE. A sessão começou de forma interactiva, envolvendo a audiência com perguntas sobre a experiência pessoal no uso de arte e tecnologia para promoção de projectos e destacando as boas práticas e cuidados no uso de redes sociais no empreendedorismo.

André Cardoso, também conhecido por MC Xamboco, apresentou o conceito de artivismo, destacando como a música, a poesia e outras expressões culturais podem funcionar como instrumentos de denúncia e mobilização. Na sua intervenção, explicou que a arte, especialmente a música e a poesia, sempre desempenharam um papel central nas lutas sociais e políticas de Moçambique. Recordou que figuras como o escritor José Craverinha e, mais recentemente, o rapper Azagaia, mostraram como a palavra artística pode mobilizar consciências e pressionar pela mudança.

A partir dessa herança, o orador apresentou o projecto “Juventude, Arte e Governação Inclusiva”, que cria redes de jovens artistas para promover a cidadania e denunciar injustiças. Enfatizou que o microfone é uma arma pacífica, mas poderosa e partilhou exemplos concretos de canções e performances que abriram espaço para diálogos comunitários sobre violência policial, corrupção e desigualdade de género. Concluiu com uma performance poética que resumiu o espírito da sua intervenção: A juventude como força criativa e transformadora capaz de escrever o seu próprio destino.

 

O pesquisador Dércio Tsandzana focou-se na relação entre juventude e espaço digital como catalisador de mobilização social e económica, destacando diferentes gerações de jovens e o seu contacto com a internet, e apresentando exemplos de artistas e colectivos moçambicanos que usam o digital para impacto social. Sublinhou o impacto das plataformas digitais na participação política dos jovens, mas advertiu para a “ilusão de inclusão” que as redes sociais podem criar. Citou dados que revelam o baixo acesso à internet e a computadores, sobretudo em zonas rurais, alertando para a exclusão digital como uma nova forma de desigualdade.

O orador trouxe exemplos de iniciativas digitais de monitoria de governação e de campanhas online que influenciaram decisões locais. Apontou que a geração de renda online inclui desde blogs e podcasts até vendas e cursos, e mostrou exemplos de artivismo digital como Fred Wamusi, com ilustrações contra violência policial, e o hip-hop cívico. Contudo, alertou para os riscos da exclusão digital, da vigilância e da limitação das mensagens a círculos restritos, propondo maior inclusão e avaliação real do impacto das acções digitais, assim como lamentou o facto de, embora a tecnologia ser uma ponte ainda não chegar a todos e que sem acesso, essa ponte é privilégio de poucos.

 

David Fardo, Presidente do Parlamento Juvenil, defendeu a importância da juventude em assumir protagonismo na transformação social e na promoção da paz. Recordou figuras moçambicanas relevantes no cruzamento entre arte e intervenção social (Malangatana, Jeremias Nguenha, Azagaia) e apontou que a paz não se limita à ausência de guerra, mas envolve justiça social e respeito pelos direitos humanos. Defendeu a criação de espaços seguros de diálogo, mesmo sob o ataque das “Mahindras Digitais” que procuram descredibilizar iniciativas jovens.

Destacou ainda que a juventude também deve assumir responsabilidades e apresentou as acções que o Parlamento Juvenil tem vindo a desenvolver nas áreas de consciencialização, mobilização para a participação política e defesa dos direitos humanos. Criticou políticas recentes, como o Programa Quinquenal do Governo 2025-2029, que prevê aumentar a presença de jovens em cargos de decisão de 4% para apenas 7% até 2029, e o Plano Economico e Social e Orçamento do Estado (PESOE) de 2025, que, no seu entender, não prevê mecanismos de inclusão efectiva. Relatou que, apesar de 45 recomendações enviadas pela sociedade civil ao Governo, o documento final manteve praticamente a mesma redacção, sinalizando uma consulta pouco consequente. Reconheceu que a internet pode ser um canal de participação, mas lembrou que o alcance é limitado no país, e que é preciso converter o engajamento digital em influência concreta.

 

Casquinho João, da Associação Viver Saudável, contou como é que a iniciativa que nasceu como resposta às mudanças climáticas e à exclusão socioeconómica de jovens e mulheres na Beira. As primeiras acções centraram-se no empoderamento comunitário e promoção de oportunidades económicas, através da criação de ecopontos, clubes ambientais, oficinas de capacitação e produção de carvão ecológico a partir de capim, fertilizantes orgânicos e fogões melhorados. Estas soluções não só ajudaram a mitigar os impactos ambientais negativos, como também geram rendimento e promovem práticas sustentáveis entre os jovens e as comunidades locais.

Esta iniciativa recebeu o apoio do CESC através do Programa IGUAL, pois foi concebida e liderada pelos próprios jovens, fortalecendo sua capacidade de acção, resiliência e autonomia. Ao participar na implementação do projecto, os jovens desenvolvem habilidades técnicas, financeiras e organizacionais, aumentando sua inserção socioeconómica e política. A produção de carvão ecológico, por exemplo, é mais limpa e lucrativa do que a convencional, oferecendo aos jovens uma alternativa sustentável de geração de renda, ao mesmo tempo em que contribui para a preservação ambiental. Além disso, os fertilizantes orgânicos produzidos pelo projecto oferecem uma solução acessível e regenerativa para pequenos produtores, ampliando o impacto económico e ambiental da iniciativa. Casquinho desafiou supermercados e produtores a integrar a reciclagem no seu ciclo de produção.

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