O quinto e último painel teve como oradores Piedade Nogueira, da associação JOSSOAL; Mércia Penicela, da associação ESSOR; Lélio Gungule, da associação Muva; e Luís Bizeque, da associação Agro – Farm. Sob a moderação de Sandra Menete, do Instituto Nacional de Emprego (INEP), este painel analisou até que ponto a formação recebida corresponde às exigências actuais do mercado, destacando não apenas a educação formal, mas também o papel da educação informal e das aprendizagens adquiridas fora da escola.
A discussão trouxe à tona questões como a desvalorização de algumas formações, a necessidade de actualização curricular, a importância das competências tecnológicas e humanas, e o potencial de diferentes áreas para gerar oportunidades. O painel também convidou os jovens a repensarem o conceito de “procurar emprego” para “procurar trabalho”, incentivando uma postura mais activa, empreendedora e transformadora de realidades sociais e económicas.
Piedade Nogueira, da associação JOSSOAL, expressou preocupação com a baixa participação dos jovens em diversas iniciativas, questionando se os jovens estão realmente preparados para aproveitar oportunidades oferecidas pelo mercado. Apontou que muitas iniciativas lideradas por jovens fracassam por falta de planificação sólida e visão estratégica, resultando em negócios de “mortalidade precoce”. Introduziu a noção de que os jovens devem se transforma em “capital humano”, e não apenas em recursos humanos substituíveis.
Defendeu que a educação financeira, a poupança e o consumo responsável são elementos estratégicos para reduzir a dependência externa e fortalecer a economia local. Através do projecto apoiado pelo CESC, a JOSSOAL tem promovido a inserção socioeconómica dos jovens mediante formação prática, acompanhamento de negócios e desenvolvimento de competências empreendedoras. Exemplos concretos incluem jovens envolvidos em projectos de produção de manteiga de amendoim, reciclagem de plástico para produção de combustível e prensas mecânicas para extracção de óleo. Estas iniciativas não apenas geram renda imediata, mas também fortalecem a capacidade dos jovens de planificar, implementar e gerir projectos, aumentando sua autonomia económica e capacidade de contribuir para o desenvolvimento local.
Mércia Penicela, da associação ESSOR, defendeu que o desafio de emprego não reside apenas em oferecer formação, mas em garantir que os jovens estejam preparados e motivados para corresponder às exigências do mercado de trabalho, algo que actualmente não ocorre de forma consistente. Ela enfatizou que muitos jovens não adaptam os seus currículos às vagas disponíveis, aguardam passivamente por oportunidades e carecem de sensibilidade para identificar o que o mercado realmente procura.
A experiência da ESSOR demonstra que a inserção profissional eficaz deve considerar três pilares interdependentes: Os jovens, as empresas e as instituições de ensino profissional. Para os jovens, é essencial desenvolver competências técnicas e transversais, como comunicação, inglês e práticas sustentáveis, além de promover uma postura proactiva na procura de oportunidades. Para as empresas, a ESSOR realiza diagnósticos sobre perfis e competências demandadas, assegurando que a formação oferecida corresponda às necessidades reais do sector, como transporte e logística, hotelaria e agro-ecologia. Por fim, a ligação com instituições de ensino profissional permite que os currículos sejam continuamente ajustados, fortalecendo a preparação dos jovens para o mercado.
Entre as iniciativas concretas, Mércia destacou o Balcão de Orientação e Emprego (BOE), que apoia os jovens na elaboração de CV, na busca activa de oportunidades, na realização de estágios e no desenvolvimento de competências transversais. Um exemplo prático citado foi o pacote de formação em transporte e logística, que incluiu módulos de inglês e práticas verdes, resultando na inserção de jovens em empresas como a Mozal, MSC e Porto de Maputo. Estas acções ilustram a importância de combinar formação técnica, orientação prática e desenvolvimento comportamental, reforçando que a empregabilidade depende tanto da adaptação do currículo às demandas do mercado quanto da postura proactiva e consciente dos jovens.
Lélio Gungule partilhou a experiência da MUVA na inserção de jovens no mercado de trabalho desde 2015, destacando que os programas iniciais registavam baixa retenção: Apenas 14% dos jovens permaneciam nas empresas após seis meses, sobretudo devido a problemas de comportamento, atitude e ética profissional. Segundo Gungule, muitas empresas estão dispostas a ensinar competências técnicas, mas não conseguem formar jovens em aspectos fundamentais de comportamento como pontualidade, assiduidade, ética e disciplina. Ele ilustrou essas dificuldades com experiências concretas: Jovens contratados em empresas de referência foram despedidos porque chegarem ao local de trabalho sob efeito de álcool, envolverem-se em roubos ou desrespeitarem regras simples, evidenciando a lacuna crítica de habilidades comportamentais.
Para responder a esse desafio, a MUVA passou a investir em habilidades humanas, orientação profissional e sessões de preparação antes da entrada no mercado. Gungule destacou que essas competências são decisivas para garantir não apenas a contratação, mas a permanência dos jovens nas empresas, reforçando que “habilidade técnica se ensina, atitude não”. Além disso, o orador chamou a atenção para os desafios adicionais enfrentados pelas mulheres, como normas sociais que as condicionam, assédio em sectores masculinizados e a sobrecarga da dupla jornada (trabalho e tarefas domésticas) que comprometem sua participação e retenção no mercado. Defendeu que a preparação das empresas para inclusão e diversidade é tão importante quanto a formação dos jovens, de modo a garantir oportunidades reais de crescimento e desenvolvimento profissional para todas e todos.
Luís Bizeque apresentou o projecto “Jovens Cultivando o Futuro”, implementado pela Agrofarm no âmbito do programa IGUAL, evidenciando como o cooperativismo agrícola pode ser uma solução estratégica para o desemprego juvenil, a inclusão social e o fortalecimento económico das comunidades locais. O projecto aposta na criação de oportunidades de emprego sustentável, preparando jovens para actuarem de forma autónoma e resiliente no sector agrícola, mesmo frente às limitações do mercado formal de trabalho. Entre os principais resultados iniciais do projecto, destacou a criação de oito núcleos comunitários juvenis em Mafambisse e Tica (Sofala), em processo de formalização como cooperativas; a implementação de hortas comunitárias e formação em produção sustentável, branding e agronegócio; a inclusão social de jovens oriundos de orfanatos e prevenção do êxodo rural; e o umento da produção agrícola local, contribuindo para a segurança alimentar.
Luís reforçou que a Agro-Farm actua em múltiplas dimensões, não apenas formando os jovens tecnicamente, mas também fortalecendo a sua autonomia económica, participação comunitária e capacidade de permanecer produtivamente na sua região de origem. O projecto permite que talentos locais permaneçam nas comunidades, evitando migração precoce para centros urbanos, ao mesmo tempo que cria oportunidades de liderança juvenil e cooperação económica. O cooperativismo é o elemento central desta iniciativa, funcionando como alternativa sustentável ao emprego formal limitado e à precariedade do sector público.
Bizeque recorreu à teoria malthusiana para ilustrar o descompasso entre crescimento populacional e produção de alimentos em Moçambique, defendendo que formar jovens líderes por meio de cooperativas agrícolas é uma estratégia eficaz para aumentar a produtividade local, promover autonomia económica e reduzir vulnerabilidades sociais. Além disso, o projecto “Jovens Cultivando o Futuro contribui para que os jovens desenvolvam competências de gestão, negociação, trabalho em equipa e planificação estratégica, fundamentais para a sua inserção socioeconómica e política, enquanto fortalecem a resiliência comunitária e a segurança alimentar regional.