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O terceiro painel discutiu a “Inclusão e diversidade: Garantindo espaço para jovens mulheres, minorias e pessoas com deficiência” e teve como oradores Anésio Manhiça, Director Executivo da associação INCLUSÃO; Emily Magaie, Fundadora da Magaie’s Travel; Joaquina Rodrigues, do Centro de Mercês e INCLUSÃO; e Laura Lourenço, do Fórum das Associações Moçambicanas de Pessoas com Deficiência (FAMOD). Delfina Mateus, da associação Inclusão, foi a moderadora do painel que reflectiu sobre a inclusão e diversidade, partindo do princípio de que um país mais justo só é possível quando todas as pessoas, incluindo mulheres, minorias sexuais e pessoas com deficiência, têm acesso equitativo a oportunidades.

Anésio Manhiça, Director Executivo da associação INCLUSÃO, partilhou a sua experiência com o “Empreender com orgulho”, uma iniciativa da INCLUSÃO apoiada pelo CESC, através do Programa IGUAL. O projecto foi concebido para desafiar a invisibilidade das pessoas LGBTQIA+ em programas de empoderamento económico, o que limita oportunidades de inserção juvenil. O “Empreender com orgulho” fornece um espaço seguro e inclusivo para jovens LGBTQIA+ desenvolverem competências empreendedoras e projectarem negócios sustentáveis. E um dos espaços seguros é o Café Networking, onde os jovens são encorajados a verbalizar, discutir e estruturar ideias de negócio.

O projecto apoiou a formulação e o desenvolvimento de ideias de negócio sustentáveis, trabalhando inicialmente com 60 propostas e avançando com 12 projectos em áreas como reciclagem de resíduos orgânicos, produção de calçado com materiais reciclados e criação de uma marca de moda para visibilidade LGBTQIA+. Os resultados alcançados demonstram o impacto concreto da iniciativa: Foram envolvidas 279 pessoas em interacções directas, 67 jovens empreendedores receberam formação prática, 55 líderes de associações juvenis LGBTQIA+ participaram do processo e, através das plataformas digitais do projecto, aproximadamente 3.400 pessoas foram alcançadas. Entre os exemplos de sucesso estão a transformação de lixo orgânico em carvão vegetal, produção de calçados a partir de materiais reciclados e orgânicos e a criação da marca Don Reich, voltada para visibilidade LGBT através de vestuário e acessórios.

Ao proporcionar um ambiente seguro, de aprendizagem prática e troca de experiências, o projecto “Empreender com Orgulho” permite que os jovens LGBTQIA+ não apenas se enquadrem no mercado, mas também se tornem resilientes perante barreiras legais e sociais, desenvolvendo competências empreendedoras, económicas e sociais. A iniciativa contribui, assim, para a integração socioeconómica e visibilidade política da juventude LGBTQIA+, alinhando-se ao espírito das “Iniciativas Juvenis”: Criar espaços inclusivos, promover inovação e fortalecer a capacidade dos jovens de atuar como agentes de transformação social e económica na comunidade.

 

Emily Magaie, Fundadora da Magaie’s Travel, partilhou a sua trajectória pessoal, marcada por discriminação no mercado de trabalho devido à sua orientação sexual. Sendo mulher lésbica, enfrentou vários desafios, incluindo exigências de adequar a sua aparência a padrões impostos, e chegou a perder oportunidades de emprego em Moçambique e no exterior. A partir dessas experiências, decidiu criar a Magaie’s Travel, uma empresa de agenciamento de viagens que presta serviços de documentação e consultoria, com foco na prevenção de fraudes e na facilitação de deslocações internacionais.

Começou a operar a partir de casa, conquistando clientes pela confiança e resultados, e hoje emprega outras pessoas, incluindo membros da comunidade LGBTQIA+. A sua experiência demonstra como, mesmo em contextos adversos e com barreiras estruturais, é possível construir soluções económicas sustentáveis e inclusivas. A iniciativa representa actualmente uma oportunidade concreta de participação activa dos jovens no mercado, capacitando-os com experiência prática e promovendo empreendedorismo inclusivo. O impacto do projecto da Magaie’s Travel vai além do negócio individual, criando um espaço de visibilidade e referência para jovens em situação de vulnerabilidade social, oferecendo-lhes ferramentas para que possam sustentar-se economicamente, participar na vida económica e social do país e inspirar outros a empreender de forma inclusiva.

Rodrigues, do Centro de Mercês e INCLUSÃO, partilhou a sua experiência enquanto activista pelos direitos de pessoas com albinismo e da comunidade LGBTQIA+, destacando a intersecção entre deficiência, orientação sexual e exclusão social. Como mulher moçambicana com albinismo e lésbica, relatou experiências de discriminação e invisibilidade, reforçando que “ter deficiência não é o problema, o problema é uma sociedade que não nos quer incluir”.

Para enfrentar os desafios específicos das pessoas com albinismo, foi criado o Centro das Mercês, único em Moçambique que distribui gratuitamente protector solar e oferece formação técnica e profissional, incluindo cursos de informática, culinária, corte e costura, e empreendedorismo. O centro trabalha também com azoto líquido para prevenção de câncer de pele, complementando a assistência médica escassa no país. Nas zonas centro e norte do país, as pessoas com albinismo não atingem os 40 anos de idade devido ao câncer de pele. Aliás, estima-se que apenas 2% das pessoas com albinismo atingem essa idade.

A activista defende a necessidade de reclassificação do protector solar como medicamento essencial, pois actualmente está na categoria de cosméticos, o que acarreta taxas elevadas para o desembaraço aduaneiro, que podem chegar a cerca de 200 mil Meticais, mesmo em casos de doações. Em relação à comunidade LGBTQIA+, Joana Rodrigues lamentou que a exclusão social e laboral persiste, sendo frequente que as únicas oportunidades venham de organizações internacionais. Defendeu uma educação inclusiva, acessibilidade como regra e representatividade real nos espaços de decisão, afirmando que “a inclusão não é caridade, é justiça”.

Laura Lourenço, do FAMOD, também partilhou a sua história de vida: Adquiriu deficiência física em 2019, após um acidente, e enfrentou dificuldades para continuar os estudos e encontrar emprego. Destacou que, embora as oportunidades sejam limitadas, a participação em movimentos de advocacia permitiu-lhe descobrir capacidades e talentos entre pessoas com deficiência que frequentemente são invisibilizados pela sociedade. Mas reconhece que a exclusão social e a invisibilidade continuam a afectar jovens com deficiência, e há famílias e comunidades que ainda escondem ou limitam a participação dessas pessoas.

Para reverter esta situação, defendeu a necessidade de criação de cotas orçamentais específicas, bem como de programas de formação e emprego adaptados às necessidades de pessoas com deficiência. Estes mecanismos não apenas reconhecem direitos, mas promovem a inserção socioeconómica e política da juventude, fortalecendo sua capacidade de actuação activa na sociedade. A inclusão de pessoas com deficiência não é caridade, mas justiça, e a sociedade e o Governo têm responsabilidade em garantir acessibilidade, visibilidade e oportunidades reais. Finalmente, Laura apelou à sociedade e às autoridades para que reconheçam o potencial da juventude com deficiência, garantindo formação, emprego e participação em espaços decisórios.

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