- Alunos de sete escolas primárias continuam a assistir às aulas sentados no chão e outras ao relento; Várias comunidades percorrem longas distâncias para aceder a cuidados de saúde.
As acções prioritárias aprovadas pelo Conselho Consultivo Distrital de Mandimba para o ano de 2023 não foram financiadas pelo Orçamento do Estado aprovado pela Assembleia da República, segundo apurou o relatório de rastreio da despesa pública nos sectores de educação e saúde apresentado pelo CESC na sexta-feira, 16 de Agosto. O evento contou com a participação de 58 pessoas, com destaque para a directora Provincial da Educação do Niassa, directores dos serviços distritais, sociedade civil, Procuradoria da República, gestores de escolas e presidentes de conselhos de escolas.
Para 2023, o Conselho Consultivo Distrital de Mandimba havia aprovado cinco acções prioritárias, nomeadamente a construção de cinco salas de aulas nas Escolas Primárias de Madeira e Nacaca; distribuição de 4.095 carteiras escolares; construção de um centro de saúde na comunidade de Ussumane; ampliação do centro de saúde da localidade de Luelele; e remodelação do centro de saúde do Posto Administrativo de Lissiete.
Sucede que nenhuma delas recebeu financiamento, situação que está a ter um impacto negativo na satisfação das necessidades básicas das comunidades. Por exemplo, os alunos das Escolas Primárias de Mulolo, Mpuina, Nangapoche, Namango, Luchimua 1, Ámido e da Escola Básica de Muita continuam a receber aulas sentados no chão.
Em relação à distribuição gratuita do livro escolar, os serviços de Educação de Mandimba haviam planificado distribuir 77.150 livros no lectivo de 2023. Entretanto, foram distribuídos 52.246 livros escolares, o equivalente a 67% da meta. O fraco desempenho é justificado por falta de fundos para transportar o livro da sede do distrito para as escolas.
O rastreio da despesa pública constatou ainda que há falta de transparência na gestão do fundo do Apoio Directo às Escolas (ADE) e um baixo nível de participação das comunidades na gestão. O processo foi caraterizado pelo fraco envolvimento de membros dos conselhos de escolas, sendo que apenas os presidentes dos conselhos e os directores de escolas é que têm domínio da gestão do ADE.
Em 2023, Mandimba recebeu 7.231.000 meticais para financiar 114 escolas primárias e 11 escolas básicas. Todas as escolas rastreadas revelaram fraco domínio das normas de Procurement e não observaram a componente de protecção social na gestão de fundos do ADE. Isto é, não foram encontrados os mapas comprovativos da distribuição de materiais escolares aos alunos em situação de orfandade e vulnerabilidade, conforme estabelecido no manual de procedimentos do ADE.
O manual de procedimentos de ADE estabelece que cada escola deve gastar 70% do valor em bens e serviços e 30% fica ao critério da escola. Em escolas onde os conselhos de escolas não funcionam, a gestão dos 30% do valor de ADE fica ao critério da direcção da escola. “O objectivo deste dinheiro é garantir condições mínimas para o funcionamento do processo de ensino e aprendizagem. Este dinheiro não é para o director da escola”, lembrou Alocre Saide, directora provincial da Educação no Niassa.
O rastreio da despesa pública é uma iniciativa liderada pelo CESC no âmbito da implementação do projecto Pro-Cívico e Direitos Humanos, apoiado pela Embaixada da Finlândia em Moçambique.